Deficiência: Políticas públicas evoluíram, mas ainda existe muito preconceito
03/12/2008 - 00:10:25  
  
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Deficiente visual desde que nasceu, há 24 anos, Francisca Josefa de Araújo Silva estuda, trabalha e se desloca sozinha por Teresina. É aluna de Letras na Universidade Estadual do Piauí, trabalha na Secretaria Estadual para a Inclusão da Pessoa com Deficiência (Seid) e utiliza o transporte coletivo da capital diariamente. Ela é só um exemplo da capacidade de milhares de pessoas com deficiência que brigam por um espaço na sociedade. E é exatamente isso que a estudante destaca neste Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. “Muito melhorou, mas muito ainda falta”, é a primeira frase da jovem ao ser entrevistada pela reportagem do Jornal O DIA.

Aprovada no concurso da Seid há dois anos e no vestibular da UESPI há um ano, Francisca tem condições tanto de estudar como de trabalhar. Na UESPI ela é acompanhada por uma assistente, à qual se refere como "ledora", que a ajuda nos apontamentos, gravando aquilo que é dito em sala de aula para que Francisca digite em braile quando chegar em casa. Para operar o computador Francisca adquiriu um programa que "lê" aquilo que ela executa na tela. De pouquinho em pouquinho, a jovem conseguiu conquistar seu espaço na sociedade e não vive de maneira dependente.

Educação, saúde e acessibilidade são os itens mais importantes na luta pela inclusão da pessoa com deficiência na sociedade. Levantamento feito pela Seid, no Piauí, mostra que muito realmente melhorou, como o acesso dessas pessoas à educação, mas muito ainda precisa ser feito, principalmente no campo dos transportes públicos.

“Não temos um ônibus sequer com condições de acessibilidade das pessoas com deficiência em Teresina”, afirma Mauro Eduardo Silva, coordenador de acessibilidade da Seid e 1º secretário do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Mauro Eduardo encontra-se em Brasília, na II conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, onde, segundo ele, o Piauí é reverenciado como o Estado que mais evoluiu em políticas públicas pela inclusão da pessoa com deficiência. Os deficientes têm conquistado um espaço cada vez maior em diversos ramos da sociedade. No que diz respeito a empregos, Mauro afirma que o Ministério do Trabalho tem feito intensa fiscalização no sentido de obrigar as empresas a cumprirem a cota mínima de vagas reservadas a pessoas com deficiência. “Empresas com mais de cem funcionários devem reservar 2% das vagas para pessoas com deficiência. Empresas que têm mais de mil funcionários,devem reservar 5% das vagas. Isso tem sido muito fiscalizado", ratifica.

No entanto, Mauro afirma que um dos maiores entraves à incusão da pessoa com deficiência é relativo à acessibilidade. "As empresas têm que se adequar a essas pessoas, e não o contrário", reclama.

As atitudes para a educação, caminho que mais abre portas do mercado de trabalho ao deficiente ainda estão aquém do que deve ser feito. "O acesso dessas pessoas à educação tem que ser um acesso universal, nao só à sala de aula, mas também à informação, com livros em braile, e com intérpretes de libras em sala de aula. Outro ponto bastante citado pelo coordenador diz respeito às condições de acessibilidade atitudinal, que diz respeito às atitudes da sociedade para com as pessoas portadoras de deficiência. "Em 90% dos casos as pessoas estacionam em vagas destinadas a deficientes. Elas não entendem que, ao fazer isso, estão tirando o direito de outra pessoa, que realmente precisa", afirma.

"Que melhorou muito, melhorou. Mas muito ainda precisa ser feito. Eu já não sou mais discriminada por motoristas de ônibus aqui em Teresina, mas já fui bastante. Já briguei e até xinguei motoristas que reclamavam quando eu estava sem acompanhante e com outros que reclamavam até quando estava com acompanhante. Já cheguei a descer no meio do caminho, de tanta raiva", conta Francisca.

Na visão de Francisca, o primeiro passo para a real inclusão da pessoa com deficiência na sociedade tem que partir dos próprios deficientes. "Antes de tudo, nós precisamos parar de nos sentir coitadinhos e provar que nós temos capacidade. A sociedade não vem atrás da gente para nos incluir, nós que temos que procurá-la. temos que encarar a realidade. Não se pode viver de fantasia", finaliza.

FONTE: JORNAL O DIA
REPÓRTER: NATÁLIA VAZ
DATA: 03 DE DEZEMBRO DE 2008