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ARTIGO
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Duas alternativas

Publicado no “Rádio Revista na Ativa” de 27/05/06

 

               Por Salvador de Castro

 

Alguma coisa sempre me disse que a vida dispensava motivos extras para que cada um de nós fosse feliz. O simples fato de estarmos vivos, de vermos a semente do criador se desenvolver dentro de nós já era motivo mais que suficiente para estarmos rindo a toa. Entretanto, não é essa a lição que recebo diariamente da minha sociedade.

A maioria das pessoas que compõem o meu agrupamento social vive queixando-se e revoltada por não ter tudo. Quando lhe falta um pequeno detalhe, quando não tem ao seu dispor todas as funções do corpo humano é como se todas as outras inúmeras e belíssimas qualidades da vida escorregassem pelo ralo. E mais que isso, transmite essa visão para as demais, visto que despreza toda e qualquer pessoa que não seja perfeitamente dotada de todas as funções. Tanto que eu já estava dividido. Por não ter tudo, não sabia se atendia ao chamado da vida para explorá-la e ser feliz ou se cumpria às ordens sociais para ser macambúzio e aceitar a condição de inferioridade. Aliás, (devo confessar) eu já estava aderindo à segunda opção, visto que cumprir ordens é tudo que nossa sociedade sabe fazer. E eu, feliz ou infelizmente, faço parte dela.

Foi aí que a vida tomou a decisiva atitude de proporcionar a minha participação na I Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Essa foi uma medida determinante para que eu analisasse melhor as duas opções a mim propostas.

E não perdi tempo. Modéstia à parte, confesso que nisso fui eficiente. Observei que nas demais pessoas com deficiência que participavam do evento podia faltar muitos pequenos detalhes – braços, pernas, função dos olhos, dos ouvidos, da voz, etc – menos felicidade. Estava estampado em cada um deles que pessoas que não conseguem caminhar podem dar enormes passos na conquista do próprio bem estar; ou que pessoas que não enxergam podem ver tudo que lhe é importante para estar de bem com a vida. E vi algo ainda mais belo que até me emocionou. Vi escrito em cada um deles algo mais ou menos assim: “- sou feliz. Não me interessa se falta uma ou mais funções em meu corpo. Tô pouco me lixando para os preconceituosos!”

Concluí, portanto que na hipótese de eu optar pela segunda alternativa de vida – ser triste e inferior – estaria cometendo uma absurda injustiça para com o criador. Pois me dei contas que apesar de não ter tudo, possuo capacidades para conseguir o essencial, graças a ele. Tudo depende único e exclusivamente de mim. Bom!... Nesse caso é melhor optar pela primeira alternativa – explorar a vida e ser feliz. Afinal de contas, eu não sou nem doido para ser injusto logo com o meu criador. Deus me livre de uma coisa dessas!

Ufa!Que alívio por não ter tomado nenhuma decisão precipitada!

 

 

Salvador de Castro

Criação, Desenvolvimento e Hospedagem:
ATI - Agência de Tecnologia da Informação do Piauí